Morre Álvaro Picado Gonçalves

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alvaropicado Morre Álvaro Picado GonçalvesÀs 5 horas desta sexta-feira, 5, Botucatu perdia parte de sua história política. Isso porque, aos 76 anos, o ex-vereador Álvaro Picado Gonçalves falecia no Hospital das Clínicas (HC-Unesp), vítima de um ataque cardíaco.Álvaro Picado Gonçalves exerceu com honra e dignidade a função legislativa por quatro mandatos – 1964-1968; 1973-1976; 1977-1982; e 1997-2000 -, e, por isso, pode vivenciar substancialmente a histórica política de Botucatu.

Entre os projetos que defendeu ao longo de sua carreira política está a criação da Semana Angelino de Oliveira, festividade cultural que congrega atividades em escolas e espaços públicos do Município que valorizam e resgatam a história e as características locais.

No campo partidário, militou pela União Democrática Nacional, Partido Democrata Cristão, Partido Republicano e a ARENA. Em seu último mandato, foi eleito pelo Partido Progressista Brasileiro (PPB).

Paralelamente à carreira política, Álvaro Picado Gonçalves foi o Fundador e construiu a sede própria da Associação de Moradores da Vila São Lúcio; foi Presidente da Liga Botucatuense de Futebol, Presidente da “Casa Pio São Vicente de Paula – Asilo Padre Euclides” por três anos e meio; além de ter tido participação ativa na administração Associação Atlética Ferroviária (AAF).

Para homenagear um dos personagens mais ilustres da política botucatuense, o presidente da Câmara Municipal de Botucatu, vereador Reinaldinho (PR) – representando toda a equipe da Casa -, fez a entrega de uma bandeira do Município à família do ex-vereador.

O corpo de Álvaro Picado Gonçalves é velado no Complexo Funerário Orlando Panhozzi. O enterro acontecerá neste sábado, 6, às 9 horas, no Cemitério Portal das Cruzes.

Confira trechos da entrevista realizada pela a assessoria de imprensa da AAF, em maio de 2009:

‘História Viva’ da AAF

Álvaro Picado nasceu em 8 de maio de 1933, em Botucatu. Ferroviário aposentado da extinta Estrada de Ferro Sorocabana, encerrou a carreira como chefe de estação. Pelo bom relacionamento com os chefes de seção e superintendência, de onde a maioria já havia exercido cargos na diretoria da Ferroviária, e muito por ter constante frequência no clube, na gestão do presidente Jacy Mauro Fatori, em 1954, Gonçalves fui convidado para fazer parte do Departamento de Recepção à Comitiva da Sociedade Esportiva Palmeiras. Desde então, Gonçalves permaneceu como membro da Família Tricolor.

Recentemente, sua importância para o clube foi reconhecida ao ser homenageado na inauguração da nova secretaria da AAF. Agora, ela leva o seu nome.

Sempre bem relacionado com as diretorias às quais participou, tem a satisfação em dizer que, a seu convite, diversos amigos que fizeram parte da diretoria do clube chegaram à presidência: Nicolau Mercadante, Antônio Bonome e Plínio Paganini.

Gonçalves também auxiliou o historiador Luiz Roberto Coelho Gomes, o Zulo, a escrever o livro “O Gigante da Baixada”, lançado em 2003. A publicação, que está esgotada há anos, poderá receber uma versão mais atualizada, porém, esse é ainda um projeto.

Dentre os acontecimentos curiosos que Gonlaves revelou, está o fato de que o clube chegou a rejeitar o jovem “Pelé”, que, em início de carreira, antes de jogar no Santos, poderia ter passado pelo clube. Confira os principais trechos:

Quais momentos importantes do clube o senhor participou?
ÁLVARO – São vários, a começar pela recepção às delegações do Palmeiras e São Paulo Futebol Clube, além de acompanhar todos os períodos do futebol profissional, o lançamento da pedra fundamental, construção do ginásio, etc. Porém, o que mais me marcou e deu grande satisfação foi na gestão do Dr. Guedes (Eduardo), quando mudamos a sede do clube para a Rua Amando de Barros. Fui incumbido de organizar a secretaria, separar os servíveis e inservíveis. Nesta etapa, tive a oportunidade de ler coisas importantes na história da Ferroviária, que me serviram de base na montagem do livro “Gigante da Baixada”.

O senhor se lembra de algum caso pitoresco que não foi narrado no livro?
ÁLVARO – Lembro, entre 1956 e 1957, na gestão do presidente Laurindo Izidoro Jaqueta, visando resumir despesas na folha de pagamento, a diretoria resolveu mesclar o clube com alguns jogadores experientes, vindos do falido Bauru Atlético Clube (BAC), pagando-os somente pelas partidas realizadas. Mediante essa decisão, o diretor Augusto Galvani, camareiro da extinta Estrada de Ferro Sorocabana – que fazia constantemente viagens entre Botucatu e Bauru -, sugeriu “Laurindo, em Bauru tem um negrinho de 17 anos, que está arrebentando a bola. Por que você não aproveita trazê-lo também?”. A resposta foi em cima: “não, pois precisamos de jogadores feitos. Moleques como esse, a várzea de Botucatu está cheia”. Três meses após, esse negrinho estava “arrebentando a bola” no Santos Futebol Clube, como o apelido de “Pelé”. E assim, o nosso Edson Arantes do Nascimento foi rejeitado pela nossa Ferroviária.

Nesses 70 anos, o clube tem o que comemorar?
ÁLVARO – Tem muito a comemorar, pois são nada menos que 25.550 dias de existência, onde horas e horas de pessoas abnegadas foram exigidas, gratuitamente, para transformar esse clube no majestoso Gigante da Baixada.